Investigador RISE identifica relação entre distúrbios do sono e risco cardiometabólico

A insónia e os distúrbios respiratórios do sono (DRS), em particular a apneia do sono, têm maior prevalência em adultos, impactando profundamente a saúde destes indivíduos.
Segundo o estudo liderado por Miguel Meira e Cruz, investigador do Laboratório Associado RISE (CCUL@RISE), quando estas perturbações do sono ocorrem em simultâneo, existe maior probabilidade de desenvolvimento de comorbilidades, nomeadamente, complicações cardiometabólicas, podendo as mesmas agravar-se em pacientes com dor crónica.
“A dor crónica está associada a um aumento da ativação do sistema nervoso simpático, a uma resposta inflamatória persistente e uma resposta inadequada aos mecanismos de stress com potenciação do que designamos de distress. O estado de hiperativação simpática contribui, por si só, para alterações cardiovasculares, resistência à insulina e disfunção endotelial, fatores fundamentais no desenvolvimento de doenças cardiometabólicas”, explica o especialista, acrescentando que a falta de exercício, ganhos de peso e stress psicossocial agravam, igualmente, a condição de pacientes que sofrem de dor crónica.
Através de uma investigação desenvolvida tendo por base a informação clínica de mais de 1236 pacientes que, entre janeiro de 2017 e janeiro de 2023, recorreram à Unidade de Dor Orofacial da Universidade de Zurique, foi possível observar uma relação significativa entre o aumento do risco de insónia e apneia do sono (COMISA) e fatores de stress psicossocial, como a ansiedade e a depressão.
Segundo o investigador do Laboratório Associado RISE, tal acontece porque “a fragmentação do sono, a hipóxia intermitente e a disfunção dos ritmos circadianos afetam a regulação emocional e aumentam a reatividade ao stress. A privação de sono também compromete mecanismos de adaptação neuropsicológica, intensificando os sintomas de ansiedade e depressão”, reforçando que “o sedentarismo, uma alimentação rica em açúcares e gorduras saturadas, o consumo excessivo de álcool e tabaco, bem como padrões de sono irregular e/ou fragmentado, são fatores que contribuem significativamente para o risco cardiometabólico”, esclarece.
De acordo com o estudo, “os pacientes com insónia e apneia do sono apresentaram índices de massa corporal (IMC) mais elevados e maior prevalência de hábitos tabágicos, fatores de risco cardiometabólico”, pode ler-se no artigo através do qual especialistas internacionais mencionam que estas patologias, devido à sua forte prevalência, conduzem a um risco mais elevado de doenças cardiovasculares e metabólicas.
No artigo publicado na Acta Médica Portuguesa, os autores concluíram que 11,5% de pacientes com dor crónica orofacial podem apresentar insónia e apneia do sono, sendo que estas formas de distúrbio do sono podem, individualmente, associar-se “a um aumento significativo do risco de hipertensão, diabetes e de outras formas de doença cardiovascular associadas à elevação de índices de mortalidade”, partilha Miguel Meira Cruz.
“Por outro lado, o estudo demonstrou que pacientes com dor orofacial, especialmente quando associada a insónia e distúrbios respiratórios do sono, elevam ainda mais esse risco cardiometabólico. Finalmente, em adição aos fatores de risco tradicionais, como consumo de álcool, tabaco e aumento de peso, existem, nestes pacientes, fatores de stress psicossocial que contribuem para esta matriz de risco e que devem ser adequadamente valorizados”, conclui o investigador.
O artigo “Interactions between Insomnia, Sleep Disordered Breathing and Cardiometabolic Risk in Patients Complaining of Pain in the Orofacial Region” foi liderado por Miguel Meira Cruz, investigador do Centro Cardiovascular da Universidade de Lisboa (CCUL@RISE). David Gozal, Cristina Salles, Isabel Rocha e Dominik Ettlin, especialistas internacionais, também assinam o estudo.