Entrevista | João Pedro Ferreira

Investigador do RISE e da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP)
João Pedro Ferreira é investigador do Laboratório Associado RISE, da nova Unidade de Investigação RISE-Health e da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).
Em 2006, licenciou-se em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP). Após terminar a licenciatura nesta instituição, o investigador doutorou-se em Ciências Médicas, pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (ICBAS-UP), com uma tese centrada na insuficiência cardíaca descompensada (ICD). Mais tarde, rumou até Nancy (França), onde realizou o seu pós-doutoramento. Atualmente, integra também o Centre d’Investigation Clinique Plurithemátique – Nancy.
Desde cedo teve interesse na investigação, área em que assume ser “sistemático na abordagem dos problemas” e onde acabaria por, ao longo da licenciatura em Medicina, na FMUP, trabalhar na área da hipertensão arterial com o Professor Jorge Polónia, também investigador do Laboratório Associado e professor catedrático da FMUP (RISE-Health@RISE/FMUP).
O especialista em doenças cardiovasculares vê o Laboratório Associado como uma entidade “essencial” para promover a cooperação entre diversas entidades de investigação, acreditando que este tem um papel fundamental no desenvolvimento de projetos colaborativos.
João Pedro Ferreira, especialista em medicina interna, centra os seus trabalhos clínicos e científicos nas doenças cardiovasculares, renais e metabólicas.
O João Pedro Ferreira começou o seu percurso académico na Medicina. Porquê a escolha desta área?
A verdade é que não sabia o que escolher, gostava de ciências e de matemática, pensei escolher Medicina porque podia aliar as duas áreas e tinha boas possibilidades de empregabilidade.
Durante o seu percurso, como surgiu o interesse pelo setor da saúde e pela Medicina Interna?
Durante o curso fui-me interessando pelos casos clínicos do New England Journal of Medicine e, juntamente com alguns colegas, fazia reuniões de discussão todas as semanas. Interessava-me por todas as áreas, sem exceção. Gostava de tentar resolver os casos e tentava ser sistemático na abordagem dos problemas, criando listas de problemas e respetivas hipóteses.
Como surgiu a investigação na sua vida?
Durante o curso comecei a fazer investigação clínica na área da hipertensão arterial com o Professor Jorge Polónia que, na altura, me deu aulas de Farmacologia. Continuei, sempre, a fazer investigação clínica, fiz várias atividades em laboratório ligadas às doenças infeciosas e autoimunes. Posteriormente, surgiu-me a ideia de usar doses mais altas de espironolactona — um antagonista dos recetores mineralocorticóides — em doentes com insuficiência cardíaca aguda, em contexto de urgência. Na altura, usava essas doses em doentes com cirrose hepática e pensei que os mecanismos de resposta terapêutica pudessem ser semelhantes, o que me fez optar por fazer o meu doutoramento nessa área.
Isso levou-me, posteriormente, a fazer o pós-doutoramento em Nancy (França), na área dos antagonistas dos recetores mineralocorticóides em doenças cardiovasculares, renais e metabólicas.
Como surgiu o convite para integrar a Unidade de Investigação Cardiovascular (UnIC)?
Foi o Professor Adelino Leite-Moreira que me convidou a integrar a Unidade de Investigação Cardiovascular (UnIC). Após alguns anos de colaboração à distância, e por motivos pessoais, tive de me mudar para Portugal e, desde então — 2021 —, integro a UnIC (agora RISE-Health) a tempo integral.
Que desafios surgem ao fazer parte de uma entidade dedicada à investigação cardiovascular?
O maior desafio é a falta de apoio à investigação clínica. É frustrante não haver, por parte dos sucessivos governos, a noção de que investigação clínica poderia permitir reduzir gastos na saúde, melhorar os cuidados às pessoas doentes e fixar mais e melhores médicos no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Este é um tema que temos abordado em diversos trabalhos científicos, mas até à data com pouco sucesso, infelizmente.
Na sua perspetiva, qual a importância da criação de uma Rede de Investigação em Saúde? Que impacto pode o Laboratório Associado RISE ter no setor da saúde e na investigação ligada a esta temática?
A criação de uma Rede de Investigação em Saúde é essencial para podermos implementar projetos colaborativos e multicêntricos. Nesse aspeto, o Laboratório Associado RISE pode ter um papel fundamental. Contudo, sem financiamento adequado, temo que não possamos levar ideias e projetos a bom porto.
Que desafios sentiu, enquanto investigador, ao integrar o Laboratório Associado?
O maior desafio prende-se com a falta de financiamento público. Só com financiamento público adequado poderemos fazer investigação clínica independente e completamente centrada na pessoa doente.
A prevenção cardiovascular é apenas um dos temas nos quais se debruça enquanto investigador. Na sua perspetiva, como está a saúde cardiovascular dos portugueses? O que tem de ser feito para melhorar a mesma?
Este é um tema complexo e tem que ver muito com decisões políticas. Por exemplo, criação de mais espaços verdes, ciclovias, passeios para caminhar, áreas de desporto coletivo, maior taxação de alimentos com pouco valor nutritivo e menor taxação de alimentos frescos e com maior valor nutritivo.
Como investigador, interesso-me essencialmente pelo impacto das dietas vegetarianas na saúde e como podemos substituir a carne por alimentos de origem vegetal ou celular fabricados em laboratório, sem impacto ambiental e, esperemos, com melhorias em termos da saúde em geral.