RISE debate perspetivas de futuro da investigação e tratamento do cancro oral
Terceira edição da Conferência “Oral Potentially Malignant Disorders Day” contou com a participação de renomeadas figuras da investigação
A Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) recebeu, nos passados dias 6 e 7 de junho, a Conferência “Oral Potentially Malignant Disorders Day”, evento apoiado pelo RISE – Rede de Investigação em Saúde e que juntou investigadores, profissionais de saúde e estudantes para debater a investigação centrada no cancro oral.
No Auditório do Centro de Investigação Médica da FMUP, Giovanni Lodi, da Università degli Studi di Milano, deu a conhecer os mais recentes avanços na investigação centrada no tratamento do cancro oral, tendo destacado a necessidade de “encontrar o tratamento certo para cada paciente”, vincou o investigador.
Já Sook Bin-Woo (Harvard University) realçou a importância de “tratar o cancro oral nos seus estágios iniciais”, mas também de prever o desenvolvimento da patologia através da leucoplasia e eritroplasia, lesões que poderão ser um “sinal de alerta” para um estágio pré-cancerígeno.
Omar Kujan (University of Western Australia) abordou, por sua vez, os recentes avanços no tratamento do cancro da cabeça e pescoço e a forma como a transcriptómica espacial (Spatial Transcriptomics) pode ser útil, uma vez que a tecnologia permite obter o perfil de expressão genética de todas as células que compõem um tecido, tendo ainda realçado a importância de assegurar “uma estratificação precisa de risco” no que diz respeito ao cancro oral.
Seguiu-se Vaishnavi Balaji (Curenetics) que, durante a sua intervenção, destacou os desafios do cancro oral, o sexto mais comum a nível mundial. Segundo a especialista, “a estratificação de pacientes de baixo risco, acompanhada pelo redirecionamento de fundos para os doentes de elevado risco, permitirá garantir benefícios para todos os pacientes e reduzir gastos por parte dos estabelecimentos de saúde”.
Pierre Saintigny, da Universidade de Lyon, apresentou um projeto de investigação através do qual pretende “melhorar a estratificação de risco do cancro oral e ajudar a identificar características biológicas acionáveis para promover a prevenção de precisão do cancro oral”, esclareceu.
A sessão da manhã contou também com a intervenção de Senada Koljenovic (University of Antwerp). A investigadora considera que existe um subdiagnóstico de displasia oral, tendo também esclarecido que 71% dos casos de carcinoma pavimento-celular da cavidade estavam associados a esta patologia.
Já Sonia Del Marro apresentou a investigação que tem vindo a desenvolver e que destaca o diagnóstico precoce de doenças orais potencialmente malignas e do carcinoma pavimento-celular da cavidade oral através da análise de mutações do ADN na saliva e no plasma. Fiona Lying, por sua vez, realçou o papel que a espetroscopia vibracional, técnica usada para a identificação de alterações bioquímicas cancerígenas e pré-cancerígenas, pode desempenhar no diagnóstico de patologias malignas.
O papel da investigação, tecnologia e pacientes
A sessão da tarde ficou marcada pela participação de WM Tilakaratne, da University of Malaya, que abordou as principais controvérsias do cancro oral, nomeadamente no que diz respeito à classificação da displasia, algo que faz com que seja necessário “reforçar a investigação centrada nesta patologia”, defendeu o ex-presidente da International Asssociation of Oral Pathologists.
Seguiu-se Rui Medeiros, da Liga Portuguesa Contra o Cancro, que realçou a importância de investigadores interagirem com associações locais de combate ao cancro, vincando também a necessidade de “educar sobre o cancro e vírus do papiloma humano” através dos hospitais e universidades. Luigi Lorini, por sua vez, centrou a sua intervenção no papel da imunoterapia no tratamento do cancro oral e das lesões associadas ao mesmo.
Já Irena Duś-Ilnicka (Wroclaw Medical University) refletiu os fatores de risco e o impacto da doença no dia a dia dos pacientes, tema central da sua investigação. Durante a sua intervenção, a investigadora partilhou alguns dados sobre o cancro oral na Polónia e revelou que existe uma maior incidência nos homens, estando o tabagismo e o consumo de álcool como os principais fatores de risco.
Vito Capito (Università di Foggia), por sua vez, debruçou-se sobre a forma como os sistemas de machine-learning podem melhorar o diagnóstico de patologias na cavidade oral.
A Conferência “Oral Potentially Malignant Disorders Day” contou ainda com a participação de pacientes de diferentes pontos do mundo que, durante o evento, partilharam a sua experiência e relação com o cancro oral.
A sessão de encerramento da 3ª edição da conferência contou com a intervenção de Fernando Schmitt (CINTESIS@RISE/FMUP), que destacou a necessidade de investigadores “trabalharem em colaboração” com os patologistas. Durante a sua intervenção, o também Professor Catedrático da Faculdade de Medicina da U.Porto realçou ainda a importância destes eventos para assegurar a melhoria do diagnóstico do cancro oral e doenças orais potencialmente malignas.
A iniciativa foi organizada pelo investigador Rui Amaral Mendes (CINTESIS@RISE/FMUP) e apoiada pelo Laboratório Associado RISE – Rede de Investigação em Saúde, Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e European Cooperation in Science & Technology (COST).