RISE “abre portas” à cooperação entre investigadores e ao futuro da investigação em Saúde
“Dia do RISE” contou com a presença de cerca de 130 participantes para debater o impacto da investigação clínica na sociedade.
A Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) recebeu o “RISE Day: The Societal Impact of Clinical Research”, um evento que, no passado dia 25 de outubro, juntou figuras políticas e investigadores nacionais e internacionais para debater o impacto da investigação clínica na sociedade.
Na sessão da manhã, que decorreu no Auditório do Centro de Investigação Médica da Faculdade de Medicina da U.Porto, Altamiro da Costa Pereira, diretor da FMUP, abordou o percurso que o Laboratório Associado tem feito, destacando o seu caráter “singular”.
Fernando Schmitt, coordenador do RISE – Rede de Investigação em Saúde, reforçou a importância das cinco linhas temáticas do Laboratório Associado “trabalharem entre si”, assim como do desenvolvimento de projetos que possam ser apresentados a entidades de financiamento.
“É muito importante nós termos projetos, projetos do portfólio do RISE que foram construídos ao longo do tempo no Conselho Científico, de modo a que possam ser apresentados a entidades financiadoras e que promovam a integração entre diferentes temas”, esclareceu.
A presença da Multidisciplinaridade
A investigadora da Unidade de Investigação e Desenvolvimento Cardiovascular (UnIC), Inês Falcão Pires (UnIC@RISE), recordou o facto de as doenças cardiovasculares serem a principal causa de morte a nível global e a forma como os biobancos poderão ser uma solução para estas patologias. Para os desenvolver, a investigadora pretende integrar amostras e reduzir a utilização de animais para fins experimentais, nomeadamente através da aposta nos biobancos humanos e animais, destacando também a necessidade de desenvolver bases de dados.
Nuno Vale, investigador do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS@RISE), por sua vez, apresentou o “Optimus 2030”, um programa que pretende desenvolver o recurso à medicina personalizada nos cuidados de saúde. “Os estudos que temos feito nos últimos anos demonstram claramente que a eficácia aumenta”, referiu, quando a Medicina Personalizada é adotada.
Segundo o investigador, esta forma de Medicina “poderá impulsionar a inovação e o crescimento económico”, algo que, de acordo com Nuno Vale, poderá ser uma mais-valia para o Laboratório Associado.
Susana Constantino (CCUL@RISE), investigadora do Centro Cardiovascular da Universidade de Lisboa, apresentou um dos projetos-âncora do RISE que visa promover a literacia em saúde. Para atingir essa meta, a investigadora afirma que é necessário criar proximidade com a comunidade educativa, prestadores de cuidados de saúde e com a sociedade civil.
“Temos de fazer algo mais e aquilo que vos proponho passa por ações de formação para professores, cursos de formação que sejam acreditados e que englobem o Norte, Centro e Sul do país. Com poucos recursos, conseguimos chegar a muitas pessoas porque estamos a chegar aos professores, às crianças e às famílias”, apontou.
O desenvolvimento de kits educativos, grupos de trabalho e experiências imersivas fazem também parte das propostas da investigadora do Centro Cardiovascular da Universidade de Lisboa (CCUL).
Investigação em Tecnologia e Suplementação
Luís Azevedo (CINTESIS@RISE) debruçou-se sobre as tecnologias em saúde, tecnologias digitais e medicina personalizada. De acordo com o investigador, a criação de equipas multidisciplinares e iniciativas ligadas à comunidade poderão melhorar a acessibilidade aos cuidados de saúde, o envolvimento dos doentes e a gestão da doença.
“Esta continuidade de cuidados promove também a integração dos vários níveis de cuidados e até do setor social. Acreditamos que permitirá a promoção do acesso aos cuidados de saúde”, defendeu.
As tecnologias de saúde digital, monitorização remota e telessaúde poderão “potenciar quer a capacidade e autogestão do doente, quer auxiliar os profissionais de saúde no cumprimento dos seus objetivos”, referiu o investigador.
Já Elisa Keating (CINTESIS@RISE) propôs o desenvolvimento de “uma plataforma de monitorização e avaliação de suplementação de micronutrientes nas grávidas que permita, a nível científico, estudar a adesão dos profissionais de saúde a recomendarem a suplementação e perceber o impacto e efeitos metabólicos e de neurodesenvolvimento na descendência”, explicou.
Investigação aberta à Comunidade
Na sessão da tarde, Altamiro da Costa Pereira deu as boas-vindas a todos os participantes do “RISE Day: The Societal Impact of Clinical Research”. No discurso de abertura, o diretor da FMUP, instituição na qual o RISE está sediado, realçou a importância do Laboratório Associado no panorama da investigação clínica.
Já Nuno Sousa, vice-presidente da Agência de Investigação Clínica e Inovação Biomédica (AICIB), reforçou a necessidade de a investigação clínica estar apoiada em bons alicerces, acrescentando que esta “é uma forma de sustentabilidade económica para as entidades de saúde”.
A experiência internacional
A partir da Comissão Europeia, a eurodeputada Maria da Graça Carvalho apontou que o envolvimento da Europa na investigação vai muito além do apoio financeiro, proporcionando também “a colaboração com os países, a troca de ideias, a mobilidade, a experiência noutros laboratórios e noutros países”.
Na sua intervenção, a eurodeputada lembrou o apoio financeiro cedido através das Bolsas European Research Council, direcionadas a “investigadores mais jovens de grande excelência e investigadores seniores com longo currículo”, explicou.
Maria da Graça Carvalho recordou ainda que o desenvolvimento de consórcios e as parcerias público-privadas também fazem parte das iniciativas de apoio levadas a cabo pela Comissão Europeia.
O coordenador do RISE, Fernando Schmitt, é claro: “a nossa ambição é ser um dos maiores players e mobilizadores na mudança do panorama da investigação clínica em Portugal”. Para isso, o Laboratório Associado propôs a criação de “projetos-âncora” com os quais o RISE irá concorrer a financiamento.
Na perspetiva de Fernando Schmitt, para o futuro é necessário “desenvolver a cultura de cooperação” entre as unidades constituintes do RISE, assim como assegurar financiamento, infraestruturas e tecnologia, coordenar a comunicação, e garantir a coordenação de objetivos pessoais com os do Laboratório Associado.
Diretamente dos Estados Unidos da América, David Zielinski, diretor executivo da Harvard Catalyst, abordou “o papel de infraestruturas de apoio colaborativo na proliferação da investigação clínica”.
Segundo o líder do Centro de Ciência Clínica e Translacional da Universidade de Harvard, o papel da Harvard Catalyst como um “espaço colaborativo entre instituições, onde indivíduos podem falar e trocar ideias” e a forma como a entidade tem vindo a garantir “relações bilaterais” permitem assegurar “um constante fluxo de informação” e dar resposta a um objetivo: “garantir o avanço da saúde humana através do apoio à inovação na investigação clínica e de translação”, vincou.
Para o futuro, David Zielinksi aconselhou o Laboratório Associado a “identificar parceiros para investigação”, a “coletar informação e usar essa mesma informação como guia para o crescimento do RISE”, algo que permitirá aos projetos desenvolvidos pelo Laboratório Associado “desenvolver raízes”.
Do laboratório à comunidade
Adelino Leite-Moreira (UnIC@RISE), líder da Linha Temática 1 – Investigação Clínica e Translacional em Ciências Cardiovasculares e coordenador da Unidade de Investigação e Desenvolvimento Cardiovascular (UnIC), centrou a sua intervenção no impacto da investigação clínica em Cardiologia, partilhando alguns estudos clínicos que alteraram a prática clínica.
O investigador deu como exemplo o estudo Framingham, uma iniciativa lançada na década de 40, centrada no sistema cardiovascular, que “tem vindo a crescer e, neste momento, tem um âmbito muito mais alargado”, revelando ser essencial, até aos dias de hoje, para compreender a epidemiologia das doenças hipertensas ou cardiovasculares.
“Quando falamos no impacto que estudos têm sobre as doenças cardiovasculares, reparem na associação temporal entre cada um deles e o que nós temos em termos da evolução da taxa de mortalidade, que tem diminuído drasticamente precisamente devido à investigação clínica”, apontou.
O investigador recordou ainda que “a mortalidade por doenças cardiovasculares continua efetivamente a aumentar e isso deve-se ao grande desafio que é o envelhecimento da população”, acrescentando que as patologias cardiovasculares representam “quase um quinto dos gastos em saúde”.
Já Carmen Jerónimo (CI-IPOP@RISE), líder da Linha Temática 2 – Investigação Clínica e Translacional em Oncologia e responsável pelo Centro de Investigação do IPO Porto, debruçou-se sobre o impacto da investigação clínica na Oncologia. De acordo com a investigadora, apesar do surgimento de novos tratamentos, o número de tumores tem vindo a aumentar a nível europeu. Para dar resposta a esta problemática, no âmbito do RISE, o CI-IPOP pretende desenvolver novos mecanismos de diagnóstico, prognóstico e monitorização de biomarcadores, identificar novos alvos terapêuticos para tratamento do cancro, assim como melhorar ferramentas de bioinformática e bioimagem.
No final da sua intervenção, a investigadora destacou que grande parte dos cancros são herdados, tendo ainda lembrado que “a investigação orientada pelas necessidades clínicas tem um forte impacto na melhoria dos cuidados dos doentes oncológicos”.
O líder da Linha Temática 3 – Investigação Clínica e Translacional em Doenças Inflamatórias e Degenerativas, Fernando Magro (CINTESIS@RISE), por sua vez, refletiu sobre o impacto da investigação clínica nas doenças inflamatórias e degenerativas. “Na doença de Crohn é possível estandardizar, objetivar e perceber que no íleo e cólon é possível induzir remissão endoscópica histológica”, referindo que os doentes neste tipo de remissão tinham “menos necessidade de corticosteroides e menos hospitalizações”
Luís Azevedo (CINTESIS@RISE), líder da Linha Temática 4 – Política de Saúde, Tecnologia e Transformação Digital, abordou, durante a sua segunda intervenção, o impacto da investigação clínica na política, tecnologia e transformação digital dos cuidados de saúde.
Para o investigador do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS), a investigação clínica é “centrada no paciente e onde tem de haver uma interação direta entre o investigador e o indivíduo”, destacando que o âmbito da investigação clínica “não se limita aos ensaios clínicos, tendo muito que ver com o desenvolvimento de novas tecnologias e estudos comportamentais”, esclareceu.
Elisa Keating (CINTESIS@RISE), por sua vez, debruçou-se sobre a investigação clínica e saúde comunitária. Na visão da investigadora, que interveio em representação de Conceição Calhau (CINTESIS@RISE), líder da Linha Temática 5 – Saúde Comunitária e Desafios Societais, a Saúde Comunitária é uma “enorme oportunidade”, uma vez que atualmente temos “uma comunidade altamente motivada que, ao envolver-se, vai aprender”. “Estamos num bom caminho, mas podemos sempre melhorar”, nomeadamente no trabalho feito em prol da sustentabilidade.
O anúncio de uma Bolsa inovadora
O “RISE Day: The Societal Impact of Clinical Research” encerrou com a apresentação formal da Bolsa Pepe, uma iniciativa apadrinhada por Pepe, jogador da seleção portuguesa de futebol e que pretende “atrair talento científico para contribuir para a produção científica e os resultados de investigação” do RISE.
De acordo com António Soares (CINTESIS@RISE), diretor executivo do RISE, a iniciativa é direcionada para “investigadores em início de carreira” que trabalhem, pelo menos, duas linhas temáticas do Laboratório Associado, e tem como “objetivo fomentar a investigação nas áreas científicas” do RISE.
Nesta nova bolsa, cujas candidaturas abrem a 1 de novembro, “há uma inovação relativamente àquilo que é o financiamento habitual nestes casos”, revelou.
A sessão de encerramento contou ainda com a participação de Pedro Rodrigues, Vice-Reitor da Universidade do Porto, que destacou o papel que o RISE – Rede de Investigação em Saúde, o primeiro grande Laboratório Associado dedicado especificamente à investigação clínica e de translação em Portugal, e a sua multidisciplinaridade poderão ter na investigação clínica nacional.
“Estou certo que a investigação que vai prosseguir, com pouco ou muito financiamento, contribuirá de forma decisiva para o futuro e bem-estar da nossa comunidade”, concluiu.
Além das intervenções de especialistas do CINTESIS, UnIC, CCUL e CI-IPOP, o evento contou com intervenções de dez doutorandos cujos trabalhos de investigação se integram nas cinco linhas temáticas do RISE.
O “Dia do RISE” contou com o patrocínio financeiro da AstraZeneca, grupo do setor farmacêutico, e da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento.