Investigadores RISE propõem uso de saliva para diagnóstico do cancro

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Uso de saliva poderá mudar o paradigma do tratamento do cancro oral ao desenvolver novos biomarcadores

O cancro oral é um dos tumores malignos mais comuns a nível mundial. Quando diagnosticado em estágios mais avançados, este subtipo de cancro da cabeça e pescoço tem um prognóstico desfavorável, estando associado a fatores de risco como a idade, género, consumo de álcool e tabagismo.

De forma a combater o impacto deste tumor, um estudo desenvolvido pelo Laboratório Associado RISE – Rede de Investigação em Saúde, através do Centro de Investigação do IPO Porto (CI-IPOP@RISE), destaca a necessidade de “identificar biomarcadores que assegurem um diagnóstico precoce, possibilitando assim uma previsão personalizada do prognóstico e da resposta do doente ao tratamento”, pode ler-se no artigo.

Atualmente, o diagnóstico do cancro oral “envolve várias etapas, combinando exames clínicos, alguns procedimentos invasivos (como o exame endoscópico), exames de sangue e técnicas de imagem para obter uma avaliação precisa da presença e extensão da doença”, refere Rui Vitorino, investigador do Laboratório Associado RISE (CI-IPOP@RISE).

Segundo os investigadores do Laboratório Associado, a saliva poderá ser um elemento essencial para o desenvolvimento de biomarcadores e, consequentemente, para o diagnóstico de cancro oral. Segundo os especialistas, tal acontece porque a saliva “tem a vantagem de estar na proximidade de células tumorais, algo que se pode refletir na sua composição molecular”, explicam.

“A saliva tem um potencial significativo para o desenvolvimento de biomarcadores no diagnóstico de cancro oral devido a várias características únicas e vantajosas. Primeiro, a saliva é um fluido biológico que pode ser coletado de forma não invasiva, fácil e segura, permitindo a recolha de amostras repetidas com risco mínimo de infeção”, aponta Rui Vitorino, acrescentando que “a composição da saliva, que inclui água, proteínas, lípidos e substâncias inorgânicas, que reflete diretamente as alterações patológicas no corpo, incluindo a presença de tumores na cavidade oral”.

No trabalho publicado na revista Expert Review of Proteomics, os autores referem, contudo, que o método de colheita de amostras de saliva pode influenciar o seu papel no desenvolvimento de biomarcadores. “O método de colheita de amostras de saliva pode influenciar significativamente o desenvolvimento de biomarcadores devido a várias razões relacionadas com a composição e a integridade das amostras. A saliva não estimulada, coletada enquanto o paciente está em estado de repouso, é geralmente preferida para estudos de proteómica salivar porque minimiza a variabilidade causada por estímulos externos”, esclarece o especialista.

De acordo com o estudo, existem várias proteínas que, recentemente, têm vindo a ser identificadas como potencias biomarcadores de cancro oral, como citocinas, fatores de crescimento, metaloproteinases de matriz e proteínas de fase aguda que “são selecionadas pela sua presença diferencial na saliva de indivíduos com cancro oral em comparação com indivíduos saudáveis ou com lesões potencialmente malignas”, refere Rui Vitorino.

Na visão dos investigadores, a identificação de biomarcadores salivares é algo “bastante promissor e que pode mudar o paradigma desta doença”, é mencionado no artigo, uma vez que permitirá desenvolver o diagnóstico precoce, monitorização não-invasiva, personalização do tratamento, redução de custos e acessibilidade, apoio à telemedicina.

O artigo “Shaping the future of oral cancer diagnosis: advances in salivary proteomics” contou com a participação de Rui Vitorino, Oriana Barros, Vitor G. D’Agostino, Lúcio Lara Santos e Rita Ferreira, investigadores do Laboratório Associado RISE (CI-IPOP@RISE).