Investigadores portugueses estudam impacto de “intervenções simuladas” em doenças cardiovasculares

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Intervenções simuladas permitem estudar potenciais novas soluções de tratamento

Uma equipa de investigadores portugueses do Centro Cardiovascular da Universidade de Lisboa/Laboratório Associado RISE – Rede de Investigação em Saúde (CCUL@RISE) concluiu que a realização de “intervenções simuladas” em patologias como a doença coronária ou hipertensão arterial poderá ter impacto nos sintomas associados a estas doenças, como a elevada pressão arterial, devido ao efeito placebo de intervenções inertes.

No estudo, os investigadores avaliaram, através de dados de ensaios clínicos, a denervação renal por cateter, uma intervenção que tem vindo a afirmar-se como possível tratamento para a hipertensão arterial.

Esta patologia que atualmente é uma das principais causas de doenças cardiovasculares, uma vez que, “mesmo em países com rendimento elevado, tem taxas de controlo reduzidas, sendo necessária a utilização de múltiplas terapias medicamentosas, que, em alguns casos, são insuficientes para assegurar o controlo da pressão arterial”, pode ler-se no artigo.

Segundo os investigadores, os nervos simpáticos renais “podem ser relevantes para a manutenção de diversos padrões de hipertensão, algo que potencia “o desenvolvimento de novas intervenções anti-hipertensivas a nível farmacológico ou mesmo invasivas”.

No trabalho publicado na BMC Cardiovascular Disorders, os investigadores verificaram que o recurso a intervenções simuladas de denervação renal tem impacto na redução da pressão arterial.

Segundo os autores, a execução de intervenções simuladas pode ser considerada como um recurso a placebos invasivos, tendo um impacto positivo no tratamento de patologias com sintomas subjetivos, como, por exemplo, a dor ou a hipertensão.
De acordo com os investigadores, isto acontece “devido às expectativas em relação a procedimentos que, por serem invasivos, poderão potenciar expectativas”, reforçando assim a necessidade de incluir um grupo placebo ou intervenção simulada, quando eticamente adequado, na avaliação de novas terapêuticas, incluindo as invasivas, uma vez que estas necessitam de demonstrar valor adicional à expectativa de melhoria do tratamento.

“Nos doentes que fizeram esta intervenção simulada e de forma expectável, porque sabemos que o efeito placebo existe, a expectativa do doente em ter algum benefício trabalhou a favor do tratamento da doença, levando a uma descida, que não foi irrelevante, da pressão arterial”, explica Daniel Caldeira, investigador do CCUL@RISE.

Apesar deste impacto positivo, estas intervenções não reduzem a pressão arterial ao mesmo nível que a denervação renal sem recurso a simulação.

Atualmente, o tratamento padrão para a hipertensão centra-se no recurso a tratamentos farmacológicos e na adoção de mudanças no estilo de vida, principalmente a redução do consumo de sal, que, referem os investigadores, “tem aproximadamente o mesmo efeito que intervenções simuladas de denervação renal na redução da pressão arterial”.
Na visão de Daniel Caldeira, “todas as novas intervenções, quer sejam farmacológicas, quer sejam invasivas, devem ser estudadas contra intervenções simuladas, nas situações em que for eticamente permitido. Existe um benefício, e este estudo demonstra-o, estando o mesmo associado à intervenção simulada e ao efeito placebo. Logo, as novas intervenções necessitam de demonstrar valor adicional à expectativa de melhoria do tratamento”.

Além de Daniel Caldeira, Fausto J. Pinto e Cláudio David, investigadores CCUL@RISE, o estudo “The effect of catheter-based sham renal denervation in hypertension: systematic review and meta-analysis” contou com a participação de Joaquim J. Ferreira, João Costa e Adriana Fernandes, da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.