Investigadores do RISE abrem caminho a nova terapia para o cancro da bexiga

Nova proposta poderá permitir uma melhor gestão do cancro da bexiga
Uma equipa de investigadores identificou uma nova abordagem terapêutica promissora para o tratamento do cancro da bexiga, patologia que regista, em média, mais de 600 mil novos casos e cerca de 200 mil óbitos por ano. O tabagismo e a exposição a compostos cancerígenos são os principais fatores de risco.
“Atualmente, o diagnóstico deste tipo de cancro baseia-se essencialmente na cistoscopia, que permite observar diretamente o interior da bexiga e realizar biópsias. Este exame pode ser complementado por análise citológica da urina, útil para detetar células tumorais, e por exames de imagem que ajudam a avaliar a extensão da doença”, explica José Alexandre Ferreira, investigador do RISE (CI-IPOP@RISE/UA).
O investigador sublinha ainda que, “apesar das ferramentas atualmente disponíveis, o diagnóstico precoce continua a ser um desafio. Muitos tumores iniciais não apresentam sintomas específicos e podem ser confundidos com infeções urinárias ou com outras condições benignas. Além disso, a citologia tem baixa sensibilidade para tumores de baixo grau, que apresentam alterações celulares relativamente subtis”.
Além destas limitações no diagnóstico, principalmente em contexto não invasivo, o panorama terapêutico do cancro da bexiga continua a ser marcado por diversos desafios. Apesar das abordagens atualmente disponíveis, incluindo a introdução da imunoterapia, as elevadas taxas de recidiva, a heterogeneidade tumoral e a ausência de biomarcadores clínicos robustos dificultam um controlo eficaz da doença.
De forma a combater o impacto deste tumor, um estudo desenvolvido pelo Laboratório Associado RISE — Rede de Investigação em Saúde, através do Centro de Investigação do IPO Porto (CI-IPOP@RISE), tem vindo a explorar as alterações na glicosilação como “uma oportunidade única” para novas terapias de precisão. Entre as soluções mais promissoras, encontram-se vacinas antitumorais inovadoras, baseadas em glicanos, açúcares que revestem a superfície celular e regulam processos-chave na progressão tumoral.
“No contexto tumoral, as vias de glicosilação encontram-se frequentemente desreguladas, originando padrões aberrantes na superfície das células. Estas alterações não só contribuem para mecanismos de evasão imunitária, como também criam novas assinaturas moleculares que podem ser exploradas para ativar uma resposta imunitária eficaz. Uma das alterações mais recorrentes é a expressão de glicanos imaturos, isto é, estruturas incompletas resultantes da interrupção precoce dos processos normais de glicosilação de proteínas”, esclarece o investigador do Laboratório Associado, acrescentando que “estes glicanos não são apenas úteis como biomarcadores, intervêm ativamente em processos de evasão imunitária, disseminação tumoral e colonização de tecidos distantes”.
Segundo os investigadores do Laboratório Associado RISE, “a gestão do cancro da bexiga continua a ser fortemente desafiada pela rápida disseminação da doença, pelas elevadas taxas de recorrência e por uma terapêutica pouco eficaz”.
“Apesar dos avanços registados nos últimos anos, o tratamento do cancro da bexiga continua a ser marcado por elevadas taxas de recidiva, desafios terapêuticos e ausência de biomarcadores clínicos robustos que permitam antecipar o comportamento tumoral. Estamos convictos de que uma abordagem terapêutica personalizada, sustentada no conhecimento profundo das alterações moleculares e glicobiológicas do tumor, abrirá um novo capítulo na luta contra o cancro da bexiga, contribuindo para reduzir significativamente o número de consultas e exames necessários, bem como a recidiva e a progressão da doença, com ganhos reais para os doentes e para os sistemas de saúde”, conclui José Alexandre Ferreira.
O artigo “Glycan-based therapeutic approaches for bladder cancer: Overcoming clinical barriers”, publicado na revista internacional Biochimica et Biophysica Acta (BBA) – Reviews on Cancer, foi assinado por José Alexandre Ferreira (CI-IPOP@RISE/UA), Rui Freitas, Andreia Peixoto e Lúcio Lara Santos, investigadores do Laboratório Associado RISE (CI-IPOP@RISE).