Entrevista | Tiago Velho

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Entrevista | Tiago Velho
Investigador do Laboratório Associado RISE e do Centro Cardiovascular da Universidade de Lisboa (CCUL)

Tiago Velho é investigador do Laboratório Associado RISE (CCUL@RISE/FMUL) e da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), onde concluiu o Mestrado Integrado em Medicina e, mais tarde, o Doutoramento, tendo, durante esse ciclo de estudos, centrado a sua investigação na resposta inflamatória e complicações pós-operatórias associadas à cirurgia cardíaca.

Com um fascínio precoce pelas ciências da vida, foi na Medicina que encontrou a ponte ideal entre conhecimento científico e aplicação clínica. Na atividade científica, Tiago Velho dedica-se ao estudo do impacto do stress cirúrgico na homeostase, explorando como perturbações metabólicas específicas contribuem para complicações pós-operatórias, como a lesão renal aguda. O objetivo é claro: compreender estes mecanismos para desenhar estratégias protetoras que melhorem a recuperação dos doentes e reduzam a morbimortalidade.

Para o investigador, o Laboratório Associado RISE representa uma ferramenta crucial para potenciar o trabalho colaborativo entre instituições, acelerar a investigação e transformar conhecimento em soluções com impacto real na saúde.

Em 2008 concluiu o Mestrado Integrado em Medicina. Por que a escolha desta área?
A ciência e, em particular, as ciências da vida sempre me fascinaram. O interesse pela Medicina surgiu no seguimento desse gosto e na capacidade de a Medicina aplicar esse desenvolvimento científico na promoção da saúde e tratamento da doença.

2. Como surgiu o convite para integrar o Centro Cardiovascular da Universidade de Lisboa (CCUL)? Que desafios surgem ao fazer parte de uma entidade dedicada à investigação cardiovascular?
O convite para integrar o Centro Cardiovascular da Universidade de Lisboa (CCUL) surgiu após a conclusão do meu Doutoramento na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Os projetos que tinha em curso e os que estava a iniciar precisavam de uma estrutura mais organizada e independente, tendo surgido, nesse sentido, a oportunidade de criar o grupo de investigação Cardiothoracic Surgery Research (Investigação em Cirurgia Cardiotorácica), que atualmente lidero

3. No Dia do RISE, em 2024, abordou o stress cirúrgico e o seu impacto. Na sua visão, quais são as implicações clínicas provocadas por este processo?
A realização de uma cirurgia cardiovascular major implica uma perturbação muito importante na homeostase de cada indivíduo. Esta perturbação está na base de grande parte das alterações que observamos no peri-operatório e que contribuem para a morbimortalidade associada a este tipo de procedimento.
Percebemos que o stress cirúrgico se associa à perturbação de vias específicas metabólicas, com contributo direto para a ocorrência de complicações pós-operatórias, como a lesão renal aguda. Perceber como estes processos ocorrem permite-nos pensar em estratégias protetoras para os doentes, e reduzir tanto a ocorrência de complicações como o risco de mortalidade.

4. Na sua perspetiva, qual a importância da criação de uma Rede de Investigação em Saúde? Que impacto poderá ter o Laboratório Associado RISE no setor da saúde e na investigação ligada a esta temática?  
Atualmente é muito difícil fazer investigação e ser competitivo ao trabalhar de forma isolada. A utilização de novas técnicas laboratoriais e procedimentos não está acessível em todos os institutos, pelo que o trabalho em rede potencia a sua utilização. Em rede, conseguimos também discutir melhor, e de forma crítica, os projetos, partilhar ideias e até amostras que possam complementar o que estamos a fazer.
A título de exemplo, temos alguns projetos em curso em parceria com a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), que seriam muito mais morosos e limitados se não partilhássemos amostras e expertise, nomeadamente na realização de modelos animais.

5. Que desafios sentiu, enquanto investigador, ao integrar o Laboratório Associado?
O maior desafio enquanto investigador em Portugal é assegurar financiamento para a realização dos projetos. As fontes de financiamento são escassas, com orçamentos limitados, condicionando bastante o desenvolvimento científico. Adicionalmente, a barreira burocrática para a execução financeira dos projetos é enorme, juntando uma camada de complexidade extra que não permite iniciar e desenvolver de forma fluida os projetos planeados.

6. Na sua perspetiva, o que é necessário fazer para melhorar a saúde cardiovascular em Portugal?
Há um caminho muito longo a fazer para se melhorar a saúde cardiovascular em Portugal. Há essencialmente três necessidades que considero prioritárias: melhorar a literacia em saúde cardiovascular na população geral, para que a população cuide melhor da sua saúde e procure mais cuidados de saúde de forma adequada; melhorar e facilitar o acesso aos cuidados de saúde cardiovascular; facilitar a investigação cardiovascular em Portugal, aumentando as fontes e montantes de financiamento, e diminuindo a burocracia associada à execução dos projetos científicos.