Investigação RISE identifica saliva como nova solução para diagnóstico do cancro do estômago

Uso de saliva poderá reforçar o diagnóstico precoce da doença e promover a identificação de novos biomarcadores
O combate ao cancro é um dos principais desafios no setor da saúde a nível europeu e tem a endoscopia como principal exame de diagnóstico. No entanto, a adesão à endoscopia é considerada reduzida na Europa Ocidental por diferentes fatores. “Em primeiro lugar, nos profissionais de saúde, pela ainda pouca relevância dada à patologia oncológica do trato digestivo superior versus colon”, explica a Ana Carina Pereira, especialista do Laboratório Associado RISE (CI-IPOP@RISE), apontando que se trata “de um exame invasivo, que pode causar desconforto e ansiedade nos doentes, o que naturalmente desincentiva a sua realização, especialmente quando não existem sintomas evidentes”.
“Importa também referir que, ao contrário de países asiáticos com elevada incidência de cancro gástrico, como o Japão ou a Coreia do Sul, onde existem programas nacionais de rastreio endoscópico sistemático, os países da Europa Ocidental apresentam níveis de risco considerados intermédios ou baixos. Isso faz com que não existam políticas públicas tão robustas de rastreio organizado, e, consequentemente, a realização da endoscopia tende a ser mais oportunista do que preventiva”, defende Ana Carina Pereira.
De acordo com o estudo desenvolvido pelo Laboratório Associado RISE – Rede de Investigação em Saúde, através do Centro de Investigação do IPO Porto (CI-IPOP@RISE), a saliva poderá ser uma alternativa apelativa para o diagnóstico do cancro do estômago e para o desenvolvimento de biomarcadores, uma vez que “os diagnósticos baseados na saliva podem melhorar a deteção precoce e atempada do cancro do estômago e minimizar as desigualdades no acesso aos sistemas de saúde”, pode ler-se na revista Scientific Reports, da Nature.
Segundo a investigadora, “a saliva é uma alternativa muito apelativa por ser um fluido de fácil acesso, cuja recolha é simples, não invasiva, indolor e não requer equipamento especializado nem profissionais de saúde treinados. Isto torna o processo muito mais confortável para o doente e viável em contextos de rastreio em larga escala, nomeadamente em populações com risco intermédio, como é o caso de alguns países europeus”.
Na visão de Ana Carina Pereira, a par da saliva, a utilização de tecnologia como machine-learning pode impactar o tratamento do cancro do estômago. “O machine-learning tem um papel cada vez mais central na identificação de biomarcadores, especialmente em doenças complexas como o cancro do estômago. Estes algoritmos permitem analisar grandes volumes de dados biológicos, como perfis de expressão génica, e identificar padrões que seriam difíceis ou impossíveis de detetar com métodos tradicionais”.
“A identificação de novas formas de diagnóstico é essencial para o cancro do estômago, pois é uma doença que, frequentemente, só é detetada em fases avançadas, quando as opções terapêuticas são mais limitadas e menos eficazes. Detetar precocemente é, por isso, a chave para melhorar a sobrevivência”, conclui.
O artigo “Saliva-derived transcriptomic signature for gastric cancer detection using machine learning and leveraging publicly available datasets” contou com a participação de Carina Pereira, Catarina Lopes, Andreia Brandão, Manuel R. Teixeira e Mário Dinis-Ribeiro, investigadores do Laboratório Associado RISE (CI-IPOP@RISE).