Futuro da saúde metabólica em debate na MET-CONF 24 com o apoio do RISE

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Evento organizado por estudantes de doutoramento contou com o apoio do Laboratório Associado RISE

A Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) recebeu, no passado dia 25 de outubro, a Metabolism Conference (MET-CONF) 24 – 2ª edição das Jornadas do Programa Doutoral em Metabolismo – Clínica e Experimentação (PDMCE), um evento apoiado pelo Laboratório Associado RISE.

A sessão de abertura ficou marcada pelas intervenções de José Manuel Castro Lopes, vice-reitor da Universidade do Porto, Patrício Soares da Silva, diretor do Departamento de Biomedicina da FMUP, João Tiago Guimarães, membro da comissão científica do PDMCE, e Juliana Morais, membro da organização da 2ª edição. Em conjunto, destacaram a importância que eventos centrados no metabolismo podem ter no futuro do tratamento de patologias associadas ao metabolismo, nomeadamente a obesidade.

No Auditório do Centro de Investigação Médica da FMUP (CIM-FMUP), Joana Gaifem, investigadora do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S), centrou-se nos trabalhos que tem desenvolvido sobre o papel de glicanos e redes imuno-reguladoras na doença inflamatória intestinal, uma doença “incurável” e que, devido à sua complexidade, é “um verdadeiro desafio para os sistemas de saúde”. De acordo com a especialista, “os glicanos permitem ativar células dendríticas e anticorpos que funcionam como biomarcadores e acionadores da resposta imune”.

Seguiu-se Juan Arrebola, da Universidade de Granada, que, por sua vez, abordou as substâncias químicas desreguladoras do sistema endócrino, tendo realçado a exposição diária da população global a químicos e o impacto que esta tem na sua qualidade de vida, afirmando que, através da alimentação, os cidadãos estão expostos a químicos como o Bisphenol A. Surge, assim, um “problema de saúde pública na Europa” que, entre outros efeitos, contribui para o processo de inflamação, aumenta o risco de cancro e de abortos espontâneos.

Na visão do especialista espanhol, a exposição a estes químicos tem maior impacto em crianças e grávidas, podendo a mesma ser minimizada, nomeadamente através de antioxidantes. O mesmo realçou também que a multidisciplinaridade é essencial para combater o impacto destes químicos e poluentes.

O papel dos genes no envelhecimento

João Pedro Magalhães debateu o envelhecimento e as patologias associadas cuja incidência aumenta com a idade. De acordo com o investigador da Universidade de Birmingham, estudos em modelos animais têm demonstrado que “pequenas alterações nos genes destes animais aumentam significativamente a sua expectativa de vida e melhoram a sua saúde”, fenómeno que reforça o papel que os genes têm no envelhecimento e nas doenças associadas a este processo.

Na sessão da tarde, Alexandre Almeida, investigador da Universidade de Cambridge, desmistificou algumas crenças sobre o microbioma humano. De acordo com o especialista, o recurso a antibióticos tem um impacto profundo nas bactérias intestinais.

“Estudar o microbioma humano requer abordagens multidisciplinares para obter uma compreensão holística da sua contribuição para a saúde ou doença”, apontou o investigador da universidade britânica.

Joana Ferreira-Gomes, professora auxiliar na Faculdade de Medicina da U.Porto, abordou a dor crónica, “algo que é tão pessoal e que, por isso, é tão difícil de estudar”. Na visão da especialista, a microbiota intestinal pode ajudar a entender a dor, nomeadamente a dor visceral e neuropática.

Marta Selma-Royo, do Institut d’Investigacions Biomèdiques August Pi i Sunyer (IDIBAPS), refletiu sobre o papel do microbioma intestinal no desenvolvimento infantil, tendo afirmado que a colonização de bactérias ocorre em paralelo com o desenvolvimento de outros sistemas. De acordo com a investigadora espanhola, fatores como o nascimento e a amamentação afetam o desenvolvimento de bactérias e a dieta da progenitora influencia, nomeadamente, o microbioma, o sistema imunitário do recém-nascido e, consequentemente, o desenvolvimento de patologias como a asma.

Do mito à realidade da obesidade

Com a moderação de Davide Carvalho (FMUP), Joana Araújo, investigadora do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), e Gil Faria, investigador do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS), foram debatidos os critérios utilizados para identificar pacientes obesos metabolicamente saudáveis e a sua relação com a obesidade.

De acordo com Gil Faria e Joana Araújo, “os pacientes metabolicamente saudáveis acabam, mais tarde, por serem metabolicamente não-saudáveis”, vincaram os especialistas, acrescentando que “os doentes obesos metabolicamente não-saudáveis têm, geralmente, um maior grau de severidade”.

A MET-CONF 24 contou com a participação de estudantes do Programa Doutoral em Metabolismo – Clínica e Experimentação que, sob moderação das investigadoras Elisa Keating e Rita Negrão (CINTESIS@RISE), divulgaram os seus trabalhos de investigação. A sessão de encerramento ficou a cargo de Altamiro da Costa Pereira, diretor da Faculdade de Medicina da U.Porto, e de Raquel Soares, diretora do Programa Doutoral em Metabolismo – Clínica e Experimentação.

Fotografia: Unidade de Gestão de Comunicação – FMUP