Estudo-piloto deteta fibrilhação auricular em fases iniciais e prevê reaparecimento da doença após tratamento

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Utilização de dispositivo E-Patch vai melhorar a monitorização do ritmo cardíaco de doentes com fibrilhação auricular

 

Uma equipa de investigadores portugueses utilizou um dispositivo capaz de detetar a ocorrência de fibrilhação auricular, possibilitando assim a sua identificação precoce após ablação, intervenção terapêutica que permite aumentar a possibilidade de manter o ritmo cardíaco normal.

De acordo com o estudo, o recurso à ablação por cateter tem demonstrado melhores resultados na redução de sintomas e melhoria da qualidade de vida do que a utilização de fármacos antiarrítmicos.

Apesar da ablação ser “uma terapêutica eficiente e benéfica, existe uma percentagem significativa de doentes com reaparecimento de fibrilhação auricular após recurso a este procedimento”, explicam os investigadores, acrescentando que idade avançada, tamanho da aurícula esquerda (AE) e comorbilidades, como insuficiência cardíaca, síndrome de apneia obstrutiva do sono e doença pulmonar crónica são alguns dos fatores de risco associados à recorrência desta arritmia.

“A ablação é realizada em doentes selecionados com fibrilhação auricular, e a verdade é que, numa percentagem importante, este tratamento leva a que a arritmia desapareça de forma consistente”, explica Miguel Marques Antunes, investigador do Centro Cardiovascular da Universidade de Lisboa (CCUL@RISE), acrescentando que o reaparecimento da arritmia ocorre devido “a diversos motivos, dependentes do doente, o que significa essencialmente que alguns casos se apresentam numa fase em que o tecido auricular já se encontra muito danificado e isso acaba por ser determinante no retorno da arritmia”.

Atualmente, para identificar a recorrência da fibrilhação auricular são utilizados o eletrocardiograma e exame de Holter (eletrocardiograma ambulatório); contudo, têm vindo a surgir novos dispositivos igualmente capazes de monitorizar o ritmo cardíaco de forma prolongada.

Um desses exemplos é E-Patch, que, neste estudo, foi aplicado no peito dos doentes logo nas primeiras 24 horas após a ablação, permitindo registar o ritmo cardíaco (na fase em que o doente já se encontra de regresso à sua vida normal) durante um período máximo de 120 horas.

Num estudo recente publicado na IJC Heart & Vasculature, os investigadores procuraram a relação entre a deteção precoce da fibrilhação auricular e o reaparecimento da arritmia após o tratamento. O estudo envolveu 40 doentes, dos quais 25 foram diagnosticados com fibrilhação auricular paroxística e 15 com fibrilhação persistente. Desses pacientes, 17 foram tratados com crioablação e os restantes com radiofrequência.

Através do E-Patch, os investigadores observaram uma forte correlação entre a deteção precoce da fibrilhação auricular após a ablação e o seu retorno durante o seguimento clínico, fenómeno que realça a importância do diagnóstico precoce no período pós-tratamento.

Os autores constataram ainda que os doentes com recorrência da fibrilhação auricular após a ablação apresentaram maior variabilidade da frequência cardíaca, um marcador de atividade do sistema nervoso autónomo. Segundo o investigador do Laboratório Associado RISE, este processo pode ser atribuído à influência da ablação sobre o sistema nervoso autónomo cardíaco durante o tratamento.

Na perspetiva de Miguel Marques Antunes, o dispositivo E-Patch permite detetar a fibrilhação auricular em estágios iniciais e prever o reaparecimento da doença, com “vantagens significativas devido à facilidade de uso e à ausência de desconforto para o doente”, proporcionando um registo confiável do ritmo cardíaco e o aumento da adesão à monitorização.

O estudo “Very-early detection of atrial fibrillation after ablation evaluated by a wearable ECG-patch predicts late blanking period recurrence: Preliminary data from a prospective registry” contou com a participação Miguel Marques Antunes (CCUL@RISE), Pedro Silva Cunha, Bárbara Lacerda Teixeira, Guilherme Portugal, Bruno Valente, Ana Lousinha, Ana Sofia Delgado, Sandra Alves, Cátia Guerra, Rui Cruz Ferreira e Mário Martins Oliveira, investigadores da Unidade de Arritmologia, do Serviço de Cardiologia do Hospital de Santa Marta.